Quarto da Shizen

Um quarto sem janelas e com uma única porta. As lâmpadas estão queimadas. A ESCURIDÃO PREDOMINA E O FIM ESTÁ PRÓXIMO

Chegando na porta do quarto de Shizen. Apesar de ter dito a Shiro que seria melhor deixar aquele assunto em pausa, ainda me preocupava se ele iria trazer aquilo a tona durante a refeição. Todavia, seria melhor que a jovem comesse com ele do que sozinha no quarto. Dei 3 leves batidas na porta.

-Shizen-san? A refeição já está servida. Gostaria de vir a cozinha comer?-

Shizen estava em silêncio na escuridão de seu quarto. Sua respiração estava ofegante: ela estava sedenta.

- Está destrancado. - levantou a voz com um pouco de dificuldade, para que a outra pudesse ouvir. Não seria difícil encontrar a menina naquele lugar: se houvesse um feixe de luz sequer seria o suficiente para que sua pálida pele e seu quimono de um vívido vermelho se destacassem.

Tinha fome. Muita fome. Não queria, entretanto, comer aquela comida que sabia que a aguardava. Shizen queria sangue, queria carne.
Num impulso, sem pensar direito no que fazia, a menor mordeu o próprio pulso, fazendo-o sangrar, e lambeu aquele líquido vermelho a escorrer.

Shizen sempre demonstrou certa dificuldade em falar em alto e bom tom. Parecia sempre ter uma voz frágil. Logo eu não conseguia diferenciar quando estava realmente aflita ou não. Após ouvir sua permissão. Abri a porta e me deparei com aquela cena.

-Shizen-san...? Shizen!-

Corri até ela e me ajoelhei, rodeando ela com os braços. Vi o sangue em seu pulso, hesitei. Levei uma de minhas mãos ao rosto dela.

-O que foi ? Se sente mal?-

Os caninos de Shizen saltavam fora de sua boca, como se fosse um aviso de que avançaria na garganta de Aya a qualquer momento. Não o faria, entretanto, porque o cheiro que sentia fluir por aquele corpo não era de sangue (e isso a irritava muito). Numa tentativa de conter seus impulsos, mordeu o lábio inferior, fazendo-o sangrar também. A esta altura, Shizen soltava uma mistura de rosnados e grunhidos.

Senti agonia ao ver o jeito como a garota estava se comportando. Parecia faminta, ao menos fora isso que deduzira pelos gestos de Shizen. Ela parecia estar sofrendo. E o que eu poderia fazer? Não tenho nada para acalma-la, nem sangue. O que corre nas minhas veias é apenas "eu". Uma parte da minha entidade. Minha consciência. Nem sequer serviria para tal finalidade de suplemento.

-Shizen...-

O que poderia dizer? Simplesmente pausei qualquer que tenha sido a tentativa de comentário e avancei meus braços.

"Argh! Chega disso!"

Segurei o pequeno corpo de Shizen e a ergui, ignorando qualquer possível reação dela. Com certeza ela não aprovaria tal gesto, mas era o mais eficiente no momento que conseguia pensar. A visão dela se machucar daquele jeito era triste.

-Aguente um pouco, Shizen-san. Se quiser morder algo, morda a mim!-

Sai do quarto correndo até a cozinha carregando a jovem procurando por Shiro.

Shizen tentou reagir. Tentou arranhar, tentou morder. Esperneava nos braços de Aya. O que eram antes grunhidos agora se tornavam gritos de uma besta, como se aquela voz que saia de sua boca não fosse sua.

A menina agora estava maluca, e ainda mais pálida do que antes, se é que isso era possível.